Quem está nas escolas precisa descolonizar o pensamento, reflete Maria Lúcia da Silva
Docente do curso de Jornalismo da FMU e da FIAM-FAAM encabeçou evento sobre racismo estrutural organizado pelo NERA
Giullia Hartvite*
“Nós que temos a oportunidade de estar na escola temos que descolonizar. É ali o ambiente em que temos que levar informações sobre a dor e a saúde mental que é vivenciar situações racistas”, refletiu a professora Maria Lúcia da Silva, da FMU e da FIAM-FAAM, durante uma palestra sobre racismo estrutural organizada pelo Núcleo de Estudos Étnicos-Raciais (NERA) na última terça-feira (11).
Docente do curso de jornalismo e coordenadora de estágios da revista DUMELA, Maria Lúcia falou também sobre a descolonização nas instituições de ensino e o lugar de fala de pessoas negras, a partir da luta dos movimentos sociais antirracismo. “O quanto a gente se calça para andar em uma sociedade como a nossa”, desabafou.
Ao lembrar do papel da família na construção da identidade negra e do reconhecimento da cultura, ela afirma que o relacionamento dentro de casa é a base da formação de se orgulhar das raízes.
“É o único lugar em que temos condições de viver com beleza a nossa etnia, é o lugar onde eu me amparei, onde ouvíamos samba, comíamos arroz, feijão e farinha, moqueca capixaba, onde eu chegava falando que as minhas colegas falaram que eu não tinha aquele cabelo liso e a minha mãe falava: ‘O seu cabelo existe, seu cabelo é cacheado, seu cabelo é bonito’”.
Baseando-se no livro de Silvio Almeida, Racismo Estrutural, Maria Lúcia mostrou como ataques e falas preconceituosas ocorrem direta ou indiretamente, por conta de processos históricos não só do Brasil, mas do mundo todo. Além disso, ela explicou que o racismo se expressa concretamente como desigualdade política, jurídica e econômica.
Apesar do livro mostrar que essa é a estrutura da sociedade atualmente, Maria Lúcia deixa claro que é obrigação de todos os cidadãos lutarem por uma sociedade mais justa e menos racista.
“O seu papel enquanto indivíduo é descolonizar a sociedade e combater o racismo. Não é uma briga dos negros contra o resto, mas uma luta de uma sociedade que não conseguiu entender o nosso papel social”.
“Os movimentos negros americanos trouxeram na sua forma de lidar com o racismo. Algumas palavras conseguimos inverter o significado, como: ‘Isso é coisa de preto’, que agora significa beleza, afetividade, axé. Esse é o nosso papel: ressignificar”, finalizou.
*Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM sob a supervisão de Maria Lúcia e Wiliam Pianco, professores do curso de Jornalismo da FMU/FIAM-FAAM.