Como a moda se ressignificou nos últimos anos

Protestos silenciosos no Met Gala expressam força da diversidade

Juliana Santos

A ressignificação da moda nos últimos anos vai desde um movimento mais sustentável e tecnológico até demandas de inclusão e consciência. Nos últimos anos, uma pressão significativa para que a indústria inclua modelos de diferentes etnias, tamanhos, idades e gêneros fez com que muitas marcas passassem a responder a essa demanda – ampliando suas linhas de produtos e lidando com isso em suas campanhas publicitárias.

Além disso, a moda está cada vez mais consciente do seu papel na promoção da expressão própria no vestuário, principalmente no cenário pós-pandemia. Sem contar a aceitação de roupas e estilos que antes eram considerados fora dos padrões tradicionais e que, agora, as marcas estão buscando atender.

Do ponto de vista sustentável, a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. As empresas estão buscando formas de reduzir esse impacto ambiental usando matérias primas mais sustentáveis, diminuindo o desperdício e adotando práticas responsáveis de produção e consumo.

Moda x diversidade

Moda e diversidade muitas vezes foram rivais. Uma sempre repleta de padrões de beleza inalcançáveis e a outra com diversos corpos, tamanhos, etnias, e pluralidade que não eram ouvidas. De uns tempos pra cá, porém, essa união tem sido uma ferramenta poderosa para promover a diversidade e a inclusão, através da representação de dessas diferenças.

O professor de Moda da FIAM-FAAM, Sérgio Kooji Kamimura, tem diversos estudos sobre como as crianças não se enxergam no vestuário das campanhas publicitárias, por exemplo. Ele acredita que falta muita coisa para a moda ser, de fato, diversa. “A pandemia fez com que as pessoas parassem e pensassem sobre o que chamamos de moda inclusiva […] a moda deveria incluir todo mundo”, diz.

Kamimura expressa o paradoxo de que, se por um lado as pessoas são diferentes umas das outras, por outro elas são iguais – já que possuem as mesmas aspirações comuns. No Brasil, parece ser o momento de expressão dessa diferença – saindo de referências eurocêntricas para outras que constituíram a formação do país: negros, orientais e indígenas, por exemplo. Para ele, são relevantes nessa discussão nomes como o de designers, costureiros e estilistas como Fernanda Yamamoto, Dendezeiro, Isaac Silva, Meninos Rei, Silvério e AZ Marias.

Professor Sérgio Kamimura em visitas externas com alunos da FIAM-FAAM

O poder da moda

O Met Gala é um evento beneficente para angariar fundos para o Metropolitan Museum of Art de Nova York, mas tem o status de um dos encontros de moda mais importantes do mundo.

Em 2023, a festa teve como tema o estilista alemão Karl Lagerfeld, ex-diretor criativo da marca francesa Channel e da italiana Fendi. Ele é mundialmente conhecido por discursos machistas, gordofóbicos e racistas, de forma que, como forma de protesto, alguns artistas afrodescendentes e plus size foram ao evento vestidos com a cor rosa – que ele odeia.

Isso significa que, mesmo tendo um caminho enorme pela frente, a voz ativa de quem resiste tem feito a diferença nesse cenário.  O Met Gala é a maior prova: em um dos eventos mais importantes dos Estados Unidos, o que dominou o noticiário e as redes sociais foram os protestos silenciosos dos convidados.

Já no Brasil, o Sankofa, um movimento de pretos na moda, e a startup de inovação social VAMO (Vetro Afro Indígena na Moda), têm como objetivo promover a inclusão e dar visibilidade, apoio e suporte aos empreendedores negros. Acontece o mesmo com a Casa de Criadores, que atua com o público LGBTQIAP+.

Se a moda muda diariamente, nos últimos anos ela tem sido marcada por uma busca por autoexpressão, sustentabilidade, diversidade e tecnologia, além de uma maior conscientização sobre o papel da moda para a população. Tudo isso sem deixar de notar que ainda há um preconceito e muito o que se conscientizar.