Coordenadora da Rede Jornalistas Pretos acredita que projetos como o dela precisam ser alçados para mudar realidade masculina e branca

Priscila Alves*

No último dia da 12ª Semana da Comunicação da FMU-FIAM-FAAM, em outubro, os alunos das duas instituições participaram de uma das palestras mais esperadas do evento: a da jornalista Marcelle Chagas, coordenadora da Rede Jornalistas Pretos (Rede JP). E ela não decepcionou: na sua perspetiva, o que faz com que ainda exista uma desigualdade grande entre brancos e pretos no mercado de trabalho é a desconexão entre as redações e a realidade da sociedade.

Ela resumiu esse argumento com um único dado: hoje, 86% dos jornalistas são homens e brancos, segundo pesquisas internas da rede.

Chagas contou na palestra que, diante desse número, o que se pode fazer é transformá-lo — e foi por isso que ela fundou a Rede JP. Atualmente, o projeto consegue promover empregabilidade para negros, periféricos e indígenas nas redações, por meio de parcerias, eventos e bolsas de estudo com veículos da imprensa dentro e fora do Brasil.

Na conversa, mediada pela professora Maria Lúcia Silva, da FMU, Chagas também relembrou que a rede foi criada depois que ela observou como havia uma rivalidade velada entre os negros no mercado de trabalho.

Assim, ter um projeto que servisse como elo de solidariedade era fundamental. Outra motivação foi sua própria experiência profissional: ao passar por assessorias de imprensa, redações e estúdios de TV e rádio, ela percebeu rapidamente a rotina de machismo, preconceito e racismo nas relações entre jornalistas.

Hoje, além desses objetivos, a JP também tem projetos para combater a desinformação sobre o tema. Fundada em 2018, logo após as eleições, a Jornalistas Pretos já reúne cerca de 180 jornalistas de diferentes idades, redações e lugares do país.

A palestra de Marcelle Chagas aconteceu remotamente no último dia da semana da comunicação e foi assistida por 80 pessoas, entre alunos, ex-alunos e professores da FMU-FIAM-FAAM. No fim, ela prometeu estender a conversa na segunda edição do encontro internacional que a Rede JP está organizando, o “Por um jornalismo plural e sem fronteiras“, que acontecerá nos dias 19 e 20 de novembro.

*Aluna do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM sob a supervisão de Maria Lúcia e Wiliam Pianco, professores do curso de Jornalismo da FMU/FIAM-FAAM.