“O racismo lida cotidianamente com conflitos de classe”, argumenta cientista social

Para Celso Monteiro, racismo estrutural é visível na abordagem de saúde pública para populações negras

Davi Ribeiro*

Na abertura da programação de novembro – o mês da Consciência Negra – organizado pelo Núcleo de Estudos Étnico-raciais (NERA) da FMU, o cientista social e consultor da Secretária de Saúde de São Paulo, Celso Monteiro, argumentou que costuma haver uma confusão entre pobreza e racismo – que, claro, é prejudicial para a população negra.

“As pessoas insistem na ideia de que determinadas questões são do campo da pobreza, não das relações raciais. O plano de fundo ainda é a cor da pele”, disse.

Para Celso, essa realidade não é de agora – mas é fruto de uma postura colonial que está incrustada na vida brasileira desde sempre. O que essa afirmação ignora, porém, é que os africanos que vieram escravizados para o Brasil também tinham saberes médicos próprios. “A produção do conhecimento a partir da comunidade africana é anterior ao mapa histórico do Brasil, porque pretos e pretas são produtores de conhecimento há muitos séculos”.

Na conversa com a professora Maria Lúcia Silva, da FMU, o palestrante expôs seu argumento sobre como o racismo estrutural está atrelado intrinsecamente à desigualdade social – e como isso tem efeito direto na abordagem médica no país.

“Falta dinheiro para a saúde, mesmo assim o dinheiro é utilizado pelos gestores da maneira como eles querem. É o que eu chamo de ‘violência nada simbólica’, porque nesse caso a violência é declarada”.

Há vários exemplos de pessoas negras negligenciadas pelo sistema da saúde brasileiro, como na época da Aids, por exemplo. “A produção de conhecimento neste campo precisa ser antirracista. Precisa ser uma produção que, de fato, alcance as pessoas”, disse.

“Que respeite a produção africana e afro-brasileira produzida por tantos homens e mulheres negras desconsiderados e desrespeitados, todo dia, toda hora”, finalizou ele.

*Aluno do curso de Jornalismo FMU/FIAM-FAAM sob a supervisão de Maria Lúcia e Wiliam Pianco, professores do curso de Jornalismo da FMU/FIAM-FAAM.