O papel do jornalismo na diversidade da moda

Taya Nicaccio, aluna de Jornalismo da FIAM-FAAM, revela desafios para pessoas negras em publicações do setor

Juliana Santos

Se a indústria da moda tem um papel importante na criação de estereótipos e padrões de beleza, a comunicação pode contribuir para a construção de uma imagem mais realista e inclusiva. Isso pode ser visto no fato de que, na cobertura de moda, a palavra diversidade pouco aparecia. Hoje é o contrário: se ver em quem veste e divulga moda para o público é pauta da imprensa e dos profissionais de propaganda.

Presente na vida de todos, a moda é política e tem classe social – na verdade, ela sempre esteve mais pautada pela elite branca. A tendência para o futuro, porém, é ressignificar a moda com representatividade e inclusão.

Qual é o papel do jornalismo nesse processo?

O jornalismo de moda

A cobertura de moda deve considerar as diferentes raças, identidades, corpos e culturas. Para fazer isso, precisa contar com pessoas que representem a diversidade social – desde a escolha de modelos até a seleção de imagens, textos e, claro, dos profissionais da área.

Ser uma jornalista é entender de tudo um pouco, assim como na moda, marcada por sua atemporalidade, mas também pelas transformações econômicas e do público. No meio disso, é preciso buscar e cultivar fontes confiáveis e consistentes – o que o jornalismo de moda tem procurado fazer.

Consciência da Negritude

A moda nos acompanha desde o nascimento. Quem não lembra da “saída da maternidade”, a roupa que os bebês usam para sair do hospital – isto é, com o que o recém-nascido vai vestir quando sair ao mundo.

Taya Nicaccio, ex-modelo e formada em Moda na FIAM-FAAM, conta como as roupas também pode ter ligações ancestrais. “Eu tive muita referência da minha família. A minha mãe, que hoje é coordenadora de uma escola na Santa Cecília, lecionou como professora de artes durante muitos anos. Sempre a via costurando roupas. Minha avó também era envolvida com arte…”.

A convivência da moda com a comunicação, porém, não é um mar de rosas: ainda há um caminho longo de diversidade a ser traçado. Muito da cobertura de moda que se propõe a ser diversa ainda é feita de negros e negras para o público negro. Taya vivenciou isso, inclusive, em uma publicação da grande imprensa do setor.

“Eu entrei disposta a mudar este cenário. Historicamente a revista não falava sobre pessoas negras, não produzia conteúdos assertivos para pessoas negras”, conta ela. “Quando comecei a estagiar lá, sequer tinham outras pessoas negras”, completa.

Taya conta que foi uma reportagem produzida por ela após o assassinato de George Floyd, nos EUA, em 2020, que ajudou a balançar o mundo da moda e o cancelamento de atitudes racistas, machistas, gordofóbicas, dente outras. “Nunca era uma pessoa negra escrevendo sobre as vivências dela”, revela.

Foi quando ela decidiu estendeu sua graduação: agora está cursando o primeiro semestre em Jornalismo na FIAM-FAAM. “Eu queria me comunicar e me conectar com outras jovens garotas negras, mas sempre trazendo a minha ancestralidade e todas essas referências negras”, finaliza.