Jornalista apresenta a obra “Quilombola e intelectual: possibilidades no dia da destruição”
No segundo evento da série, o NERA recebe a mestre em jornalismo Andréa Rosendo para discutir a obra de Beatriz Nascimento
Por Arthur Vieira Beserra *
No último dia 10 de abril ocorreu o segundo encontro da Sala de Leitura Beatriz Nascimento promovido pelo Núcleo de Estudos Étnico-Raciais (NERA). Mediado pela coordenadora do núcleo, profª Maria Lucia da Silva, recebeu Andréa Rosendo, mestre em jornalismo da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), para discutir aspectos da obra da autora que batiza o evento. Participaram, também, as professoras Neide Silva e as irmãs Necy, Fabiana e Érica Teixeira que, segundo Maria Lucia, “ajudaram a fortalecer o projeto”.
O livro abordado foi Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual: Possibilidades no Dia da Destruição (2018, Editora Mães da África). Temas como a necessidade das editoras atualizarem conceitos presentes em seus livros ao lançarem novas edições foram tratados. A convidada acredita que termos ultrapassados podem distorcer a compreensão por parte dos novos pesquisadores, por exemplo.
Sobre o capítulo 19 “A Sociologia do Exótico”, discorreram sobre como os sociólogos paulistas, na maioria da etnia branca, foram os responsáveis pela maior produção de registros do passado, o que pode indicar uma escrita à distância, não tão apurada quanto se tivesse sido feita por estudiosos negros. A comunidade negra deve ser incentivada a escrever, pois, diz Andréa “cada vez que um negro morre, junto com ele se vai uma biblioteca inteira”.
Uma das distorções, por exemplo, é quando se diz que o negro foi escolhido para trabalhos braçais em detrimento ao indígena, mas no momento da abolição da escravatura, os imigrantes italianos é que foram contratados e remunerados e receberam todos os apoios do Estado brasileiro para se instalar por aqui.
Produção audiovisual da historiadora
Sobre a produção audiovisual, que sempre mereceu atenção e análise de Beatriz Nascimento, por exemplo a reflexão que fez sobre o filme e a personagem Chica da Silva (1976). Embora Beatriz tenha elogiado o desempenho da atriz Zezé Motta com o personagem Chica da Silva, a obra de Cacá Diegues reproduz o estereótipo da mulher negra sensual que precisa se entregar aos desejos de um homem branco da administração local para ascender na vida.
Seria essa a visão da senzala vista pela casa grande?. O cinema, acredita a palestrante Andrea Rosendo, deve ser usado para ajudar na produção de registros positivos sobre a história e sob a ótica dos negros, representando suas dores e experiências com fidelidade, como no caso do filme Ôrí, lançado em 1989 e dirigido por Raquel Gerber. Abordando os movimentos negros entre 1977 e 1988, tendo como fio condutor a história de Beatriz.
Trailer do filme Ôrí: https://www.youtube.com/watch?v=xKjKGeg-t1s
Sobre a questão do mito, abordada no capítulo 28 do livro, Andréia analisa que é importante valorizarmos não a personificação de lutas sob o nome de uma única pessoa, mas pela resistência de todo um povo.
O evento seguinte, realizado em 24 de abril, abordará dois textos: Por uma história do homem negro e A Mulher Negra no Mercado de Trabalho e contará com a presença da pesquisadora Fabiana Teixeira e da consultora em aprendizagem organizacional Necy Teixeira.
- aluno do 6º semestre do curso de Jornalismo