Caminhada São Paulo negra

Texto e fotos Gabriela Barbosa*

São Paulo é o estado com a maior população negra no Brasil, mas mesmo assim, poucas pessoas sabem que diversos bairros da região central da cidade fazem parte da história e da cultura desse povo.

Como exemplo desse “apagamento” podemos citar o decreto de 25 de julho de 2018 do, então governador, Márcio França que rebatizou a Estação Liberdade da Linha 1 Azul para Estação Japão-Liberdade.

Como memória é poder, nasce a ideia da Caminhada São Paulo negra que convida o público a conhecer lugares importantes da história da população negra, passando por locais como o bairro da Liberdade e o Largo Sete de Setembro, além de também falar sobre música, culinária e cultura africana.

Os responsáveis são os guias Guilherme Soares Dias (jornalista, colunista da Carta Capital e autor do livro Dias pela Estrada) e Heitor Salatiel (fotógrafo).

A caminhada

No dia 4 de março aconteceu uma das edições do tour com um grupo composto por 8 mulheres. A atividade teve duração de aproximadamente 3 horas começando na praça da Liberdade e terminando no Largo do Arouche.

 “Bem-vindas a África Liberdade”. Foi com essa frase que Guilherme deu início a caminhada. Os primeiros pontos visitados foram a Capela dos Aflitos e a Igreja Nossa Senhora dos Enforcados. Logo no início era possível observar que as participantes trocavam experiências entre si, falavam sobre: transição capilar, colorismo, entre outros assuntos relacionados ao cotidiano de mulheres negras.

Ao chegar no bairro da República os guias falaram sobre a Galeria Presidente que é popularmente conhecida como galeria do reggae, onde há uma grande concentração de imigrantes africanos. Outro ponto visitado nessa região foi a estátua da mãe preta, que fica no largo do Paiçandu e é a única estátua de uma mulher negra no estado de São Paulo. 

Nesse ponto Heitor falou sobre festas como a Discopedia e a Batekoo que são feitas e frequentadas por negros. Os guias e as participantes também conversaram sobre funk, samba, samba rock (com direito a uma pequena aula de dança) e rap que são estilos musicais importantes na cultura negra, sobretudo o grupo Racionais MCs que canta em suas músicas a realidade dos moradores de periferia. 

Um pouco da história dos locais visitados

Igreja Nossa Senhora Rosário dos Pretos: Localizada no Largo do Paiçandu, na região central da Cidade de São Paulo, foi construída gratuitamente por trabalhadores negros no início do século XX. Originalmente era localizada na Praça Antônio Prado onde foi construída entre os anos de 1721 e 1722.
Endereço: Largo do Paissandú, s/nº – Centro, São Paulo – SP, 01034-010.

Estátua da mãe preta: O símbolo exalta a figura da babá negra que criou os filhos dos senhores de engenho, nos tempos coloniais. O monumento de Júlio Guerra, inaugurado no aniversário de São Paulo em 1955, é uma homenagem à raça negra radicada no Brasil.Endereço: Largo do Paissandú, s/nº – Centro, São Paulo – SP, 01034-010.
Endereço: Largo do Paissandú, 55 – Centro, São Paulo – SP, 01034-010.

Igreja Nossa Senhora dos Enforcados: No ano 1821, o quartel da rua Santa Catarina, protagonizou a “Revolta Nativista”, que eventualmente levou a separação de Portugal. A revolta reivindicava o pagamento de salários já atrasados há cinco anos e a igualdade de tratamento entre soldados brasileiros e portugueses. “Chaguinhas” foi preso e, apesar dos pedidos por clemência, foi condenado a morte, o que chocou toda a cidade. No local foi construído uma forca, mas duas vezes a corda arrebentou. Na primeira, o povo clamou “Liberdade!” e na segunda “Milagre!”. Hoje o local é a conhecida Praça da Liberdade.
Endereço: Praça da Liberdade, 238 – Liberdade, São Paulo – SP, 01503-010.

Bairro da Liberdade: A conhecida Rua da Glória foi um dos locais que abrigou um cemitério para pobres, negros, indigentes e condenados à forca.

Largo Sete de Setembro: Até 1865, o largo Sete de Setembro, na parte detrás da Catedral, era conhecido como largo do Pelourinho, uma referência à coluna que ficava no local para castigar escravos. Por ali, também ficavam a cadeia, a forca e o quartel.
Endereço: Largo Sete de Setembro, Liberdade.

Largo do Arouche: Além de importantes referências, como o Mercado de Flores e a sede da Academia Paulista de Letras, uma de suas grandes obras é o busto de busto de Luiz Gama.

Largo da Misericórdia: Chafariz da Misericórdia, erguido em 1793, por meio de subscrição pública, quando Bernardo José de Lorena era governador e capitão-general de São Paulo. O autor da obra foi o mestre-pedreiro Joaquim Pinto de Oliveira Tebas, mulato, que dizem ter sido escravo. A água descia das cabeceiras do Anhangabaú, do que é hoje o Paraíso, para o chafariz. Ali faziam fila escravos que vinham buscar água em barricas para as moradias. O chafariz do Tebas foi desmontado em 1886 e transferido para o Largo de Santa Cecília (de onde seria removido em 1903).
Endereço: Rua Álvares Penteado – entre a Rua Direita sentido Praça da Sé.

Ladeira da Memória: Nesse local ficava o mercado que leiloava escravos no século 19.
Endereço: Próximo do metrô Anhangabaú.

* Aluna do 4º semestre do curso de Jornalismo e monitora do Núcleo de Estudos Étnicos-Raciais (NERA)