“A voz é o poder do nosso clã”

“O slam, a poesia fala”, é tema de palestra durante a Semana de Comunicação do FIAM-FAAM

Por Maria Carolina Sousa*

Na segunda noite da 9ª Semana de Comunicação (22) ocorreu a palestra de apresentação ao universo do slam, um movimento que surgiu na década de 60, em Chicago (EUA), e se espalhou pelo mundo. A iniciativa foi promovida a partir dos Núcleos de Estudos Étnico-Raciais (NERA) e de Gênero e Sexualidade (NUGE), sob orientação das professoras Maria Lúcia e Beatriz Trezzi. Os convidados foram os poetas Rafael Carnevalli, Nany Dias e Gisele Oliveira, também conhecida como Besoura.


Nany Dias (crédito: Laís Fiocchi)

O contexto da criação deste campeonato de poesias foi trazido pelos palestrantes, que apresentaram seus trabalhos ao público presente. Gisele Oliveira, que traz para sua poesia elementos da cultura brasileira e das religiões de matriz africana, ressaltou que o slam se destaca pela forma como é criado e expressado, sem qualquer adereço ou acompanhamento musical. “Qualquer pessoa pode se apresentar”, diz.


Gisele Oliveira, também conhecida como Besoura (crédito: Laís Fiocchi)

Ela também explicou que o slam é uma forma de representação do que ocorre nas periferias, por isto se tornou um meio para que as minorias expressem seus pensamentos e críticas perante a realidade em que vivem diariamente. E pela notoriedade e espaço que tem ganho, revelou-se uma oportunidade de empregabilidade. “Inclusive tem muitas pessoas que conseguem viver do slam como principal fonte renda”.

Além disso, foi debatido o quanto os encontros nas batalhas e o ato de criar as poesias, podem contribuir para a educação de jovens que estão vulneráveis as condições impostas pelos locais em que moram. A própria Gisele faz menção a sua história. “Eu já estava indo pro caminho do tráfico. Mas, fui incentivada a escrever. E quando conheci o slam percebi que era isto o que eu queria”. E conta que já pode viajar para vários locais, de modo a espalhar o impacto sociocultural desta poesia sem métrica em nossa sociedade. “O slam pode salvar vidas”, complementa.

Sob território nacional

No Brasil, o slam se firmou por meio de Roberta Estrela D’alva – atriz, pesquisadora, produtora cultural e poetisa brasileira – que visitou Chicago na década de 90, para conhecer esta manifestação emergente, e assim, tornou-se pioneira e criadora do ZAP (Zona Autônoma da Palavra), primeira batalha de slam nacional, que completa seus 11 anos de existência. A história da repercussão das batalhas performáticas que ocorrem nos EUA e em nosso país, pode ser encontrada no documentário “SLAM: Voz de levante”, produção da própria Roberta.

Cada um com sua “pegada”

Cada slam tem a sua funcionalidade, como explica Rafael Carnevalli, que também divulgou seu livro de poesias, chamado Maloca, em que expressa seu olhar questionar acerca da cidade de São Paulo. “É importante entender que o slam nasceu de uma maneira a celebrar a voz. É a liberdade de expressão de forma livre e lírica. Então existem algumas regras, como as poesias serem autorais e ter um tempo de apresentação”. Ele cita as novas inovações, como a nanopoesia, que leva apenas 1 segundo. “Quem vai chegando se inspira em que já está por ali. É uma grande escola”.

Livro de poesias Maloca de Rafael Carnevalli (crédito: Lais Fiocchi)

*Aluna do 5º semestre do curso de Jornalismo e monitora da Agência Integrada de Comunicação (AICom) e do NERA. Texto publicado originalmente no https://aicomfiam.net/