Como “Afrofuturo: Pretos Que Mudam Seus Mundos” mudou o meu
Por Pedro Henrique Ribeiro
“Em uma sociedade dominada por políticas eurocêntricas, um movimento surge para resgatar a ancestralidade e garantir que as próximas gerações de afrodescendentes tenham um lugar no futuro.
O afrofuturismo foi criado em um contexto de ficção científica, mas em pouco tempo se mostrou universal dentro da cultura afro-diaspórica. Grandes nomes da comunidade negra em todo o mundo provaram que essa utopia é possível, e hoje podemos enxergar essa verdade na vida de pessoas comuns. Um cabeleireiro da zona sul de São Paulo e um pintor norte-americano de renome têm o mesmo poder de promover mudanças e de garantir a continuidade de seu povo – do afrofuturo”
Conhecer o passado, pensar o presente, planejar o futuro. Esses são os principais passos para o afrofuturismo – e eu aprendi isso com o meu trabalho de conclusão de curso.
Em dezembro de 2019, véspera do meu primeiro semestre de TCC, aproveitei para escolher um tema que estivesse mais conectado comigo e encontrei uma alternativa no afrofuturismo. Essa produção me reconectou com a minha ancestralidade e me fez pensar em alternativas para o futuro da população preta.
Para escrever esse livro-reportagem, preparei uma lista com 15 personalidades negras que acreditei serem as mais experientes para falar sobre o afrofuturismo e necropolítica. Dessas, seis aceitaram, e no final, apenas três me deram entrevistas. Precisei correr contra o tempo para encontrar as fontes que substituíssem os que se recusaram a participar e os que sumiram no meio do processo, mas no final eu consegui.
O contexto da pandemia foi extremamente importante para a produção dessas narrativas. Como jornalista aprendi o que fazer e, principalmente, o que não perguntar em uma entrevista. Afinal, não é apenas de acertos que nosso conhecimento é moldado. Os vários tropeços que dei no início da pesquisa me ajudaram a fechar as entrevistas e apurações com chave de ouro, e compensar as lacunas que podem ter surgido nos primeiros capítulos.
O primeiro capítulo se chama “Navalhas” e conta a história de dois barbeiros negros da cidade de São Paulo – um da zona norte (Ariel Franco) e outro da sul (Renato Oliveira). Esse capítulo foi marcado pela única entrevista pessoal que fiz para o livro. Visitei a barbearia de Ariel e pude experimentar um pouco do jornalismo na rua. Infelizmente isso não se repetiu ao decorrer da investigação por causa da covid-19.
O segundo capítulo ganhou um ar mais imersivo e recebeu o nome de “Afrotopia“. Nele, conto como a escravidão dos povos africanos criou a diáspora negra e explico, a partir disso, o surgimento do movimento afrofuturista. Conversei com um artista jamaicano chamado Paul Lewin e com o professor de jornalismo da Unesp Juarez Xavier para refletir a partir de pontos de vista especializados.
No capítulo de número três, “Oceano“, conversei com a dançarina e professora Joceline Gomes – uma dos que aceitaram e mantiveram o compromisso da entrevista – e com o crítico de arte e jornalista Miguel Arcanjo Prado para falar sobre o espaço dos negros na arte e entender como se dá o movimento afrofuturista no teatro e na dança. Além disso, aproveitei para falar sobre a criminalização da cultura afro-diaspórica pelo mundo.
O quarto e último capítulo se chama “Maafa“, palavra em suaíle para definir o holocausto do povo negro. Nessa parte do livro, falo sobre o desenvolvimento da necropolítica no Brasil e como ela põe em risco os projetos para o Afrofuturo. Entrevistei a ativista do movimento negro e de moradia Preta Ferreira e contei novamente com a colaboração do professor Juarez para descrever melhor esse cenário da política de morte no Brasil.
O livro “Afrofuturo: Pretos Que Mudam Seus Mundos” pode ser baixado gratuitamente através do site: https://fiamfaam.wixsite.com/afrofuturo.
*Pedro Henrique Ribeiro é jornalista de Guaianazes (ZL), repórter no Omele, cofundador do coletivo de jornalismo Aldeia Latina com passagens pela Band, Rádio Alesp e UOL.