A representação dos países do continente africano no jornalismo brasileiro analisada pelos imigrantes africanos
Por Andreza Aparecida de Oliveira
O trabalho estudou a representação dos países africanos no jornalismo brasileiro e trouxe a análise de imigrantes africanos para a discussão do tema sob a orientação da professora Dra. Maria Lúcia da Silva. O problema da pesquisa foi descobrir se o jornalismo brasileiro retrata o continente africano de forma estereotipada, e o objetivo geral foi investigar a opinião de imigrantes africanos para saber como eles se veem representados no jornalismo brasileiro. Nas entrevistas as perguntas versaram sobre racismo, formação de estereótipos sobre o continente africano, a visão desses imigrantes sobre o Brasil e a influência do jornalismo no desconhecimento dos brasileiros sobre o continente.
Entrevistamos seis pessoas, sendo três homens e três mulheres, vindos de cinco países diferentes: Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Costa do Marfim e Nigéria. As falas dos participantes mostram sobre como a mídia, através das novelas, transmite uma ideia romantizada sobre o Brasil, que termina a partir do momento que esses imigrantes chegam no país e se deparam com a xenofobia e o racismo. Os entrevistados também falaram sobre a falta de noticiamento sobre os seus países, da seleção de notícias que evidenciam o pessimismo e da influência do jornalismo na formação de estereótipos que é reproduzido pelos brasileiros. Foi reforçada a necessidade do jornalismo brasileiro mostrar a realidade atual dos países africanos, enviando correspondentes nesses países e trazendo novos recortes, que também apresentem a cultura e intelectualidade africana.
O formato escolhido foi uma monografia que foi dividida em três seções, a primeira fez uma abordagem mais histórica, falando sobre escravidão, o racismo no brasil e o seus desdobramentos, além da influência dessa ideologia na destruição da identidade do negro e sobre como ela pode ser recuperada através dos estudos da ancestralidade africana com orgulho e dignidade. A segunda parte fala sobre o negro de forma geral, discutindo a sua representação no jornalismo. Este capítulo trouxe exemplos de reportagens que mostram como a imagem do negro e associada a marginalização nas reportagens policiais, falou sobre a invasão da imprensa jornalísticas nas comunidades e da invisibilidade negra, pela falta de temas raciais em matérias jornalísticas. O último capítulo faz uma abordagem mais específica, falando sobre o menor espaço dedicado a reportagens que se referem ao continente africano, recortes jornalísticos que evidenciam o pessimismo, a constante redução associação da África a um país e sobre como a forma com que o continente é noticiado no Brasil influência na formação de estereótipos.
Neste TCC, além de ter aprendido a construir um trabalho científico, conheci autores do qual não tive contato durante a graduação e que me trouxeram outro olhar em relação ao tema. Também aprendi a utilizar a técnica de análise de entrevistas, que me possibilitou visualizar melhor os resultados obtidos. Ao estudar este tema eu entendi que o Brasil não apenas desconhece a sua história, como também, se nega a aprendê-la. Esta negação é motivada pelo racismo que classifica como não importante toda contribuição dos povos africanos, e não brancos, e que exalta apenas os feitos dos homens europeus na nossa sociedade. O fruto do desconhecimento sobre a ancestralidade africana no Brasil gera estereótipos, e esses estereótipos tem sido reproduzidos pelo jornalismo, que retrata o continente africano com um olhar distanciado. Por isso, este trabalho teve o objetivo de discutir a necessidade da revisão dos discursos jornalísticos ao falar sobre o continente africano, dada a sua grande influência na formação de opinião, para que o racismo e preconceito não sejam ainda mais disseminados, tornando mais dolorosa a experiência de imigrantes africanos que estão no Brasil.